sexta-feira, 5 de março de 2010

A Impossível Gentileza do Desapego

Há alguns anos, aprendi a duras penas que as pessoas não são nossas... estão nossas...
Nossas vizinhas, nossas amigas, nossos maridos, nossos pais, nossos filhos...
Somos pegos de surpresa ao longo da vida, pela chegada e ida de quem gostamos. Nos apegamos as situações, e a essas situações que sabemos muito bem que deixarão de existir, é uma questão de tempo.
A graça da vida é justamente essa. Em ser mutável, volúvel, cheia de altos, baixos, laterais...
Nada linear é tão saboroso como aquilo em que não se sabe o que esperar.
A dor da saudade existe e todos nós, sem exceção, a sentimos em algum momento, em algum lugar. A diferença está no tempo que ela dura, na maneira como a encaramos. Mas ela existe.
Não nascemos preparados para o fim, o fim de nada. Não somos educados para aprender a lidar com o encerramento. Com o fim de uma amizade, de um namoro, de um trabalho, de qualquer relação que tenhamos com o outro. Gostamos do frio na barriga de começarmos alguma coisa, da ansiedade do início. Somos instruídos para termos paciência, serenidade para manter uma situação e em último caso, para decretarmos o fim.
Mas depois de todo fim há um início ou reinício. Tudo que acaba deixa espaço para algo que começa. Trazendo novas experiências, novos sabores, novos sonhos... Tudo novo, que mais dia, menos dia, chegará ao fim e mais uma vez não nos prepararemos para ele.
Alguém que pensa no fim o tempo todo, não aproveita o gosto do começo, as delícias do durante.
O desapego é uma lição que não nos é ensinada, somos obrigados a aprender na prática, com todo peso e conseqüências que se apresentarem.
A gentileza de ceder quando a vontade, na verdade, é segurar, prender, manter - é algo tão difícil que muitas vezes, por mais que tentemos ser gentis, não conseguimos.
Mesmo amando, desejando o melhor, nossa natureza egoísta se sobressai e a prática da gentileza do desapego torna-se impossível.
Queremos ver o outro bem, mas perto de nós. Felizes, mas perto de nós. Fortes, mas perto de nós.
Faz parte.
Ganhar, se apegar e perder... faz parte.
Há alguns minutos, aprendi que as situações se repetem e que aquele sentimento que um dia foi tão pleno e dolorido, se repete. E isso faz parte.

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